terça-feira, janeiro 31, 2006
DAS NO ELINGA
Das Primeiro no exterior do Elinga Teatro.
O espetaculo de Das Primeiro organizado pela Masta K no Elinga Teatro no passado dia 13 de Janeiro foi sem duvidas um grande dia para o Hip Hop nacional. O veterano angolano (residente na Holanda) fez-se acompanhar por MC K, Kool Kleva, Keita Mayanda e eu, Dj Samurai. Nesta noite Das fez valer os seus dotes liricos junto com um flow original, e sabendo interagir muito bem com o publico que encheu por completo o recinto, desta forma o mano apresentou o seu disco entitulado Terapia. Todos gostaram do espetaculo (até os haters) e para melhorar ainda mais o cenario, Kool Kleva, Keita Mayanda e MC K representaram a cena local.
A Mad Tapes esteve concerteza no local não so para acompanhar o Das atravez de Kool Kleva e eu, mas tambem aproveitamos a oportunidade para lançar um disco promocional de nome KARGA PRA 2006 que inclui novo material de Raf Tag, MaléFuck, DJ Samurai e DH. Por falar em MaléFuck, o seu som Street Plume feat Extremo Signo, Yung Dee e Exkal Shine (prod. por DH) já é um sucesso nas ruas de Luanda.
Infelizmente não pude tirar mais fotos do espectaculo em si pois estava atras dos decks, assim aqui vai algumas fotos tiradas antes do show:
Keita Mayanda e o puto Substancia, ambos não deixaram de comprar a promo da Mad Tapes e X10 para 2006.
DH, o nosso homem dos beats, foi neste dia o responsavel pelas vendas das promos.
Ainda era 17hoo e eu já animava a cena atrás dos pratos, o peeps curtiu bué do meu set e é o que interessa.
One
Samurai
domingo, janeiro 22, 2006
RAF TAG entrevistado na HipHopMwangole.com
1.Quem é RAF TAG e quem é MorV-Kraven ? São os dois num só, ou um em dois ?
RAF TAG é o Ricardo em versão MC, com todos os seus medos, pontos de vista, aspirações, ou seja, com todos os seus defeitos e qualidades. Já MorV-Kraven é uma personalidade macabra de RAF TAG, o seu lado mais negativo, aquele que fala de forma a exaltar o lado obscuro da existência, ele é o praticante da força da energia negra. É tudo um pouco como Fernando Pessoa, para cada estilo de escrita e visão de mundo, um novo pseudónimo. Mais não digo, porque é pessoal, ouve os sons, compra o disco quando sair.
2.O porque de “demoNOcracia” para titulo do álbum ?
Bem, demoNOcracia é um jogo de palavras que fiz com o termo democracia para ficar mais horror. Demono de demónio, o melhor de tudo é que essa simples introdução das letras NO transformaram completamente o conceito de democracia, que na sua base significa “poder do povo”, já demonocracia é o “poder dos demónios”. A meu ver esse é o regime que se passa em todo o planeta. Particularizando Angola, raciocina comigo, Angola é um pais jovem e quer muitos insistam em negar, democrata, mas nas ruas e em certos círculos do poder político são cometidos actos que orgulhariam o próprio Satanás. Infelizmente esses elementos exercem uma grande influência no destino de Angola, o álbum fala sobre isso, do mal que impera, logo “demoNOcracia” é o termo que mais simplifica o conteúdo do meu futuro disco.
3.Já nos habituas-te a ver-te recorrer a um estilo tenebroso em trabalhos anteriores, o que haverá de incomum nesta tua obra discográfica ?
O meu estilo é Horror-Core basicamente, mas com uma particularidade muito própria, é que trata de política-social, o que os “colegas” americanos não fazem. De incomum neste álbum tem a estrutura das letras e a produção. As letras estão mais simples de forma há que até o ser mais ignorante o compreenda, caso não o consiga fazer que se suicide porque a sua capacidade de percepção é nula. As letras tem refrões, que era algo que eu não fazia, e tem o BZb como convidado em quase todas as músicas, ele é a pessoa que mais acredita em mim, logo é quem mais me dá força, é uma espécie de agradecimento que lhe faço pelo contributo que me presta. Quanto às produções já não estão a cargo do Samurai, nem do RK100AP, que já foram a face dos beats horror. Agora tenho a contribuição de produtores novos como o CMC, que é a grande revelação para mim, ele é um grande produtor, tem um beat do Xtymas, que é um beat poderoso que dá titulo ao disco, tem um beat muito forte do DJI Tafinha, tem beats do Patriarca, que é um velho amigo meu dos tempos da Infinit Crew, ele é conhecido por fazer beats super melódicos que só dão para RAP Consciente. Este álbum é o romper de todos os velhos antagonismos e preconceitos que existiam, porque tem beats do Raiva, que é o produtor que mais álbuns revolucionários produziu. O Boni do Supremo Regimento ofereceu-me os seus préstimos também, acho que me dará pelo menos um beat. Restam dois beats que já houve produtores revus que se ofereceram para faze-los. É muito bom o que está a suceder-me, porque sinto que é uma espécie de reconhecimento por parte deles, alguns é mais por amizade que me os dão. Então este é um álbum Horror-Core com uma espécie de abraço por parte do RAP Revolucionário, é bom esta proximidade que se está a gerar ultimamente, até porque ela vai contribuir para que se acabe com esse mito da guerra existente entre estes dois estilos, pois essa guerra em nada favorece o movimento, a não ser servir para separar-nos sem uma razão consistente.
4.Consideras esse teu futuro álbum como mais radio-friendly? Porquê?
Se o significado de radio-friendly for essa cena dos beats bounce com rimas recheadas de putas, cadilac's, bling blings e merdas, não. O meu álbum não será nada radio-friendly, até porque ele fala sobre as verdades, e a rádio hoje em dia foge da verdade, passando só o veneno que anestesia os sentidos preceptivos da população. Eu só falo sobre o que todo o mundo no fundo conhece, mas não quer reconhecer, preferindo essa hipnose que torna os homens apáticos.
5.Agora falando mais de ti, qual é a tua relação com a Mad Tapes, ela é a tua distribuidora? Tens algum contracto com ela? Ou seja onde é que a Mad Tapes participa na tua vida artística?
A relação que eu tenho com a Mad Tapes é simples, eu sou amigo do Samurai, ele tem fé na minha cena, como tal não me põe barreiras na criatividade, deixando tudo quanto é criativo a meu cargo. O que faz com que eu me sinta à vontade, e até como eu não aceito tirar do bolso um único Lwey pelo RAP, gravo os sons e ele vai editar. O Samurai é que vai correr os riscos, vai tratar de tudo o resto, ele é que ficará com as despesas, lucros ou prejuízos, é tudo para ele, obrigado pela confiança Sam. E não, não tenho nenhum contracto assinado, é tudo de palavra por amizade.
6.Seria sonhar alto visualizar um álbum novo de RAF TAG com participações de Big Nelo ou Army Squad? Porquê?
Eu não tenho o hábito de cantar com pessoas que não conheço, o RAP para mim é uma partilha, é um espelho do meu dia a dia, logo não vou pôr no meu álbum alguém com quem não convivo, não tenho nada para partilhar com alguém que não cruza na minha realidade. O “demoNOcracia” só pode ter a colaboração de quem influencia os meus passos, alguém que vive na mesma galáxia de fogo e gelo que eu, como é o caso do BZb. Os rappers de quem falaste nem sequer pertencem ao mundo em que gravito, são de uma realidade paralela e distante da minha, eles são o brilho e eu o sujo, não há qualquer semelhança. A terra não gira à volta de Plutão, o cão não pare filhos de uma cobra, e se tal acontece-se não seria natural, mas sim uma aberração cientifica. Acho até que essa tua pergunta é despropositada, pois a eles não lhes perguntam o contrário, eu não sou do tipo de underground que o finge ser, mas ao longe pisca o olho ao “mainstream”, se é que assim se pode chamar ao RAP comercial em Angola.
7.O que tens a dizer sobre o facto de certos rappers que existem no movimento dizerem que te consideram um copia do Necro, o suposto irmão de Ill Bill( Non Phixion), podes falar sobre isso?
Gostei dessa pergunta. O povo angolano é o povo no mundo que mais necessidade sente de se espelhar em algo que não seja da terra, procura sempre semelhanças, mesmo as inexistentes. Então quando aparece algo novo e diferente é ainda pior, ficam assustados e sentem uma necessidade bravia de rotular e tentar explicar esse fenómeno através de comparações patetas, para não se sentirem ameaçados. O próprio Necro nos EUA é comparado com o Eminem, por ser branco e controverso. Ao contrario do Necro eu não vanglorio a droga, não estereotipo negativamente as mulheres, não incentivo a pornografia, logo a única semelhança possível é o sangue que escorre nas letras, eu falo de outras cenas mais espiritas ou sociais. Mas caso se queira ver as coisas por esse prima das copias, o Caveira C é revu, então é uma copia dos Public Enemy, o Revolucionário é poético, então é uma copia do Last Emperor, o MC K é uma cópia do Talib Kweli, o Kool Kleva é uma copia do Nas ou Comum Sense, acho que isso de se chamar copia a alguém é coisa de hatter. Eu admiro o Necro pela sua perseverança de fazer aquilo em que acredita de alma, apostando tudo sem medo de perder, sobretudo gosto dos beats dele. E já agora as copias angolanas dos americanos não estão no movimento underground, estão no outro.
8.Sabe-se que és um MC de inúmeras batalhas verbais, já andaste em beefs com o Mc Morte, Extremo Signo, que aparentemente resultou em reconciliação. O que dizes do teu beef com o Mata Frackuxz, o que é que anda por detrás desse conflito?
Todo o Hip-Hop é uma cultura baseada na batalha e no respeito, no tempo em que eu andava em beef com o Extremo Signo, nos gravávamos diss-songs no home-studio, mas íamos enfrentar-nos nos palcos dos espectáculos, ninguém fugia, eu sou homem, ele é homem. Já o Morte, que é fácil traçar-lhe o perfil psicológico até pelo nome, é uma cabra fantasma, lança diss's sem razão aparente, e não enfrenta as consequências causadas pela sua debilidade psíquica, logo ele não merece qualquer tipo de respeito, nem comentário positivo. O Mata Frackuxz é um caso muito peculiar e interessante. O Hip-Hop é uma cultura de negros para negros, pelo menos assim o era até a pouco tempo atrás, sendo assim as pessoas de outras raças quando se apaixonam por ele, na maior parte das vezes tem a tendência de cair no pecado de se auto-flagelar, sentem vergonha e repulsa pela sua raça e familiares, tornam-se complexados e até chegam ao ponto de ir buscar ancestrais que quase descoagularam do seu sangue. Isso tudo só para serem aceites pelos negros e para se sentirem integrados, é uma pena recorrerem a isso pois muitos chegam a eclipsar o seu próprio brilho. Eu pego no Mata Frackuxz como um exemplo universal, até porque tal patologia nele é aberrantemente evidente. Eu ao contrario do que ele faz em relação a mim não o insulto, eu analiso-o eu ajudo-o de forma a ele poder mudar, mostro-lhe os pontos negativos dele. Eu tenho a certeza de que ele esta cego, porque se estivesse acordado veria o bem que lhe estou a fazer ao contrario dos pseudo-amigos dele que lhe acariciam os defeitos. É uma pena chegar a conclusão que o conheço melhor do que ele se conhece a si mesmo. Eu devolvo-lhe o orgulho de ser quem é na verdade, embora esconda essa verdade. Ao prestar-lhe tal ajuda, estou a ajudar outros miúdos que tal como ele indirectamente também padecem desse mesmo mal, isso é uma espécie de trabalho filantrópico psicológico de minha parte. Epá infelizmente ele é um asinino e não vê isso, foi engolido por utopias que o tornaram no próprio fraco que tanto quer matar. Eu sei que no fundo ele admira-me pela força que tenho, eu sou fat, ele é uma lua sem luz própria, e eu sou um sol que ilumina um sistema solar. Fora a ele ser um mentiroso por causa do complexo não tenho nada contra ele, até porque a expressão dele não atinge o meu mundo impérvio. Até nem sei se ainda existe tal beef, pois a 1 ano e pouco que não sai nada de parte a parte, acho que só ainda existe um recentimento. A verdade é que não posso passar a minha vida toda a ajuda-lo, dei-lhe pés, agora cabe a ele conseguir andar firmemente, o meu conselho é para ele se reencontrar consigo mesmo .
9.Projectos para o futuro, para alem do RAP?
Pretendo acabar os estudos, viver intensamente e em paz o amor que me queima, evoluir como pessoa, cumprir a minha lenda pessoal e vencer batalha a batalha positiva para cumprir o meu destino.
10.Que mensagem deixas para os ouvintes de RAP Angolano?
Antes de deixar um mensagem, primeiro quero deixar uns desejos. Desejo que os ouvintes deixem de ser hatters para poderem fazer o que desejam, desejo que deixem de ser ignorantes para pararem de falar sobre conceitos que desconhecem, pois muitos são tiranos, mas falam em democracia. Esses desejos são somente para um certo número de ouvintes que me odeiam, sem ao menos saberem da razão para tal ódio, eles sabem que eu sou o melhor MC no que faço, e só não o sou considerado por todos porque 90% do Movimento Hip-Hop em Angola é racista. A mensagem é simples, obrigado a quem me apoia de alma e coração sem qualquer tipo de ódio ou interesse escondido, força, lutem por tudo aquilo em que acreditam que o mundo é vosso. E para fechar mesmo, não se esqueçam que antes do álbum vem ai para breve primeiro o meu single de Mercado Negro, comprem a cena que vai estar potente, e através dela podem fazer já uma mínima ideia do que será a “demoNOcracia”.
Esta entrevista foi extraida do site http://www.hiphopmwangole.com/ e foi toda ela conduzida por Sebastiao Nogueira.
Obrigado manos!
O album de RAF TAG entitulado “demoNOcracia” estará brevemente na ruas.
Fiquem ATENTOS!!!! POIS O HORRORCORE ESTÁ DE VOLTA!!!!!