terça-feira, março 03, 2009
PARA REFLETIR...
Luisete Araújo fala do Estado da Nação
Luanda - Segue o texto integral do Memorando sobre o estado da nação apresentado, esta Terça Feira (24/02/09) em Luanda, durante a Conferência de Imprensa dirigida por Luisete Araújo pré-candidata às eleições presidenciais.
Caros cidadãos e cidadãs
Prezados compatriotas
Apraz-nos saber que somos numerosos a tomar consciência do estado preocupante em que se encontra o nosso país.
Contudo, dada a profundidade, a pertinência dos assuntos e a necessidade do vosso parecer sobre as questões que aqui se irão levantar, procuraremos ser sucintos no verbo e precisos na exposição dos pontos e ideias que seleccionamos para partilhar em conjunto as preocupações que fazem o Menu político, social, económico, religioso ou cultural de Angola.
Porém, não seríamos patriotas se prolongassemos com esta introdução ao debate, sem render a mais singela homenagem a todos quantos lutaram por esta Angola, dando até as suas próprias vidas ou ficando mutilados comprometendo os seus futuros. Se hoje estamos aqui, é graças a todos eles. Por isso, bem-haja!
Caros presentes:
A Nova Geração de angolanos tem uma missão secular, mas urgente a cumprir no seu tempo: “Devolver Angola aos angolanos”. Pois, os dirigentes actuais continuam a falsificar os factos da nossa história e a implementar um programa de Reconstrução de Angola baseado na lógica da exclusão. O 1° excluído e descriminado é o angolano em benefício de todo o tipo de estrangeiro. Tudo quanto condenamos ao colonialismo português e que constituiu o fundamento de reivindicação da luta de libertação, é exactamente o que os dirigentes actuais estão a fazer.
Para muitos, a Angola do tempo colonial é a cópia da Angola de hoje. Portanto: “Devolver Angola aos angolanos!”, é o nosso primeiro ponto de reflexão.
Isto explica-se pois, 80% das linhas mestras do projecto de Reconstrução, fundamenta-se na importação. Importação de meios, importação de capitais, importação de mão-de-obra até de cérebros que pensam por nós o que devemos fazer para nós mesmos. Importação que pressupõe a exclusão do Angolano.
Não obstante tudo isso, Angola vai caminhando célere. É verdade que algo se tem feito. Mas, precisamos de ser maduros e responsáveis na análise das situações de Angola. O que mais indigna é que no programa actual do Governo, o Angolano não tem lugar, pois não tem valor. Entretanto, ninguém tem nada contra os estrangeiros, apenas estamos preocupados com o lugar que ocupa o angolano na sua própria terra e na ordenação de seu próprio bem-estar. O estrangeiro que para cá vem, não é culpado pelo estado de coisas, ele segue os trilhos traçados pelos governantes nacionais que o conduzem a práticas que muitas vezes atentam contra os direitos dos angolanos.
Devemos acreditar na inteligência e na capacidade de materialização do Angolano. É isto o mais preocupante. Pois, está a adiar-se uma tarefa que é a primordial, a formação integral do jovem angolano, isto se quisermos falar de independência política efectiva e de liberdade ou autonomia económica de facto. Até agora, não registamos qualquer esforço sério que possa premeditar a boa intenção do actual governo contar hoje e amanhã com o quadro Angolano na primeira linha das tarefas adstritas à Reconstrução do seu país. No melindre dos casos, quando falamos do Angolano, este vem sempre em terceiro lugar.
Estamos independentes, há 33 anos. Tirando os vestígios de guerra, o Angolano não fez nada digno disso mesmo e que nos possa orgulhar. Mas, isso não é porque o Angolano não é dotado. É simplesmente porque o governo não quer que o Angolano evidencie as suas capacidades psicomotoras. Por isso, continuamos a afirmar com a consciência plena, de que: “Angola não pertence aos angolanos.”
Os únicos marcos que testemunham Angola como pertença de alguém, são as evidências deixadas pelos portugueses e que não exige que nos desloquemos para atestar o que afirmamos. Elas estão em todo o lado. São escritos de normas e regras de conduta política, civil e social que nós herdamos como Constituição; são os traços de alienação cultural que esvaziaram parte da nossa identidade como africanos; são edifícios públicos, igrejas e catedrais; são monumentos; são infra-estruturas sólidas, e até regras de valores morais. Têm 500 anos de existência, mas aí estão incólumes. Não há mais nada que a história possa documentar sobre Angola de ontem, porque não foram os angolanos que escreveram essa história, pois não foram os angolanos os protagonistas dos grandes feitos dessa história.
Fala-se da urgência dos angolanos resgatarem a apetência pelo trabalho, mas destroem-se empresas e fábricas que poderiam servir de forja para moldar o angolano trabalhador.
Angola continua no passado
O CAN _ 2010 vem aí a passos largos. Angola está de parabéns. O mundo tem e terá os olhos fitos em nós. Mas, no fundo a pergunta é: que Angola iremos apresentar ao mundo visitante? Vai ser escondido o retrato da Angola real, do Kazenga, da Petrangol, do Sambizanga ou vai limitar-se os visitantes a Maianga, aos Coqueiros, a marginal, Avenida Deolinda Rodrigues, Ho Chi_Min? É a mesma questão que se coloca em relação às províncias. O CAN 2010, será a cópia do fiasco da São Silvestre 2008?
Outra questão, será que este projecto CAN 2010 que muito felicitamos, foi contudo bem analisado, ou foi na sequência da euforia dos 170 dólares o barril? Quem irá aos campos? Depois do CAN 2010, quem irá gerir as infraestrutras ora criadas? Que tipo de actividades se irá realizar nestes estádios? E depois de tudo, que destino se vai dar ao pessoal que será empregado durante o CAN 2010?
No quadro político, o MPLA procura por todos os meios aniquilar as forças de reivindicação, eliminando outros partidos e com isso asfixiar a voz do povo. Os Comités de Especialidade substituíram os Comités Populares de Vigilância e vigiam o comportamento dos quadros técnicos hoje considerados prisioneiros de consciência e que vivem sob medo permanente daquilo que em politica se chama a morte social. Para ver que as pessoas evitam cumprimentar, muito menos conviver com todos aqueles que não se identificam com o MPLA, sob pena de perderem seus empregos, verem recusados os créditos ou sofrerem outras represálias. Mas, nos esquecemos que no quadro da cidadania, todos nós temos de ser iguais perante as leis, cada um de nós deve gozar dos seus direitos. Entretanto, depois de 500 anos de repressão e humilhação colonial portuguesa, nós como angolanos ainda não conseguimos demonstrar que somos diferentes e melhores do que aqueles que nos oprimiram durante séculos, basta visitar as cadeias e encontramos a explicação desta nossa afirmação.
Contudo, a redenção do angolano depende unicamente do angolano e não de outrem. O angolano tem de se redimir, tem de levantar a cabeça, olhar para o lugar onde vive, os bairros e musseques. O jovem angolano tem de perguntar a si próprio porque razão vai ter de assumir permanentemente o estatuto de delinquente. O angolano não pode conformar-se com a miséria e fazer da sobrevivência sua cultura. É só por isso que há muito ódio, muito egoísmo e muita falta de amor entre nós. É urgente mudar o curso da história.
Angola é um grande país e os angolanos um povo maravilhoso. Mas o futuro de Angola não pode se caracterizar a imagem do mar de crianças desamparadas e desesperadas que serpenteiam as ruas e os becos de Angola, por falta de escolas, de estruturas de acolhimento ou de políticas que venham a dar um destino mais humanista à essas crianças que nós cremos serem o futuro de Angola. Os nossos mais velhos, os antigos combatentes, aqueles que muito fizeram por nós, aqueles que tudo deram à pátria e não receberam nada. Estes merecem muito mais atenção e carinho.
Aproveitamos aqui endereçar uma palavra de apreço às mães solteiras que não podendo sustentar seus filhos, ou os abandonam ou são empurradas para o mundo da prostituição. De igual modo os pais que impotentes, por falta de emprego ou meios de sustentação, mergulham para o universo da delinquência ou da droga. Tenham coragem e lutem com dignidade pelos vossos direitos.
O governo actual, sem antes criar as alternativas, aplica a repressão contra as zungueiras e taxistas que mal ou bem procuram ajudar os que mais sofrem quando eles são de facto as primeiras vítimas;
As igrejas foram forçadas a enveredar pela simpatia partidária e contribuir para uma tendência (na lei do mais forte). Assim procederam as igrejas, assim foi o comportamento dos sindicatos dos trabalhadores, supostamente com o estatuto de apartidários;
No quadro da Reconstrução, fazem-se estudos imperfeitos e empíricos, tomam-se decisões precipitadas e erradas, mas não se tem o mínimo de remorso pelos danos que se provoca, tudo porque estávamos a nadar num mar de dólares. Agora e tardiamente pretende-se corrigir os erros;
As instituições do Estado não são respeitadas, os ministros, estão reduzidos a simples figurinos e a sociedade civil completamente ignorada;
Os ministérios estão criados, mas não sabem exactamente quais as suas competências e áreas de responsabilidades. foram substituídos por outras comissões posicionadas estrategicamente. Suas missões colidem com as responsabilidades dos ministérios estatutariamente homologados. Os conflitos estruturais que essas comissões provocam, criam a paralisia nas tarefas de Reconstrução. Daí que, muita gente se pergunta, para que servem os ministérios e a quem devemos chamar ministro.
O Presidente da República que fez um apelo solene a necessidade da reabilitação dos valores morais. Parece insensivel aos males dos angolanos. A forma como foi gerido o dossier da pandemia da raiva, é apenas a ponta do Iceberg de como os dirigentes actuais tratam seu povo. As administrações municipais não estão ao serviço do povo. Nos bairros e municípios a violência virou cultura, faz-se justiça por mãos próprias, assassinatos bárbaros, crianças violadas, roubos e assaltos, ninguém vem a público tomar uma posição firme e realista. É normal, porque não tocou um membro da nossa família. Os angolanos merecem consideração.
Nos hospitais e maternidades, diariamente morrem muitas pessoas, por desleixo, falta de meios e ninguém reage.
Eis o porquê de se ter lançado o ardil das eleições presidenciais indirectas. A verdade é que, não se quer que o povo se pronuncie.
Entretanto, é bom lembrar que Presidente da República, não é profissão, é uma responsabilidade temporária, é um voto de confiança que o povo atribui, num tempo dado para o cumprimento de objectivos precisos. E mais, todo o angolano está afim de assumir tal responsabilidade. É assim nos países civilizados, é assim que queremos em Angola que se preza um país de civilizados.
Não podemos deixar escapar esta oportunidade para mudarmos a direcção de Angola. A alternância do poder é fundamental para o desenvolvimento justo do povo. Somos 17 milhões, não acreditamos que somos todos nulos. Temos que mostrar ao mundo que não somos só uma massa compacta, mas somos uma composição de átomos com qualidade. Somos 17 milhões de angolanos úteis e inteligentes. Se não abraçarmos a cultura da mudança, corremos o risco de tornar Angola numa aldeia em que seremos obrigados a pagar imposto não a um Estado, mas à um soberano a quem seremos chamados a adorar e prestar vassalagem.
Durante o conflito armado que terminou, já cometemos o erro de apenas pensar na guerra e não no pós guerra. Enviou-se a nossa juventude para aprender a manipular com eficiência as máquinas de guerra, não nos preocupamos em paralelo de formar os jovens para as tarefas da Reconstrução com a mesma ciência e mestria. Hoje continuamos na mesma senda um tanto ou quanto absurda: gastar milhões na importação de mão-de-obra estrangeira ao invés de investir seriamente na formação e capacitação dos nossos jovens. Tal como no passado, hoje o angolano é apenas espectador na construção dos factos que deveriam marcar a história do seu presente. Tudo porque, não tem opinião, muito menos o direito de dizer não ao que está errado. Porque não é capaz de nada, depende de tudo.
Governar é saber administrar. Parece ridículo frisar, mas administrar um país, uma província, um município, é uma outra ciência muito mais complicada do que aquilo que aparenta ser. E como não se está preparado para assumir as premissas científicas da arte de governar, está-se a cometer erros crassos que têm provocado danos vitais para os homens e as coisas do presente, cujas repercussões se farão sentir até ao futuro. Segundo especialistas, mais de 50 porcento das obras que se estão a fazer vão ter que ser demolidas ou refeitas; como pontes, edifícios e estradas. Pois não correspondem com as normas universais em todos os aspectos, a começar pela segurança dos cidadãos, a estética arquitectónica, a durabilidade das obras, a ética urbanística e ambiental, para uma autonomia politica e económica de raíz. É dinheiro que se perde, são angolanos que vão perdendo a vida, quando se está a hipotecar o país até as futuras gerações.
Hoje aplaudimos a construção de algumas casas, mas nos esquecemos que não estamos a fazer favor a ninguém. Para além de um dever, é uma obrigação do Estado. Não nos esqueçamos nunca: “Os deveres dos cidadãos começam lá onde terminam as obrigações do Estado”. E, o Estado actual está muito longe de cumprir com as suas obrigações.
O que se assiste, são falsas promessas que encobrem a triste realidade da nossa Angola, essa Angola profunda a dos bairros e das aldeias.
Por isso, queremos uma nova geração para fazer nascer uma nova nação, assente no humanismo, no amor ao próximo, no perdão mútuo para o verdadeiro bem-estar social de todos e para que estas crianças sofredoras de hoje possam ter no futuro próximo um sorriso verdadeiro.
O OGE 2009/2010, foi feito na base de dados imaginários. Não teve em conta os ante - projectos que deviam ser elaborados pelas províncias e ministérios e que serviriam de estudo para uma atribuição mais coerente das prioridades por parte do Parlamento, com vista a uma aplicação mais profícua e judiciosa dos dinheiros.
O projecto de sociedade do MPLA. Se existe, nunca foi levado ao debate ou à apreciação das várias componentes sociais. O que sabemos é que temos 7 biliões de dólares de dívida actuais e mais de 20,5 biliões que foram contraídos a margem do conhecimento oficial. Isto não deixa de ser preocupante. No meio disso tudo, são as assimetrias, as injustiças sociais e económicas que continuam a caracterizar o tecido social de Angola. Não obstante, temos de continuar a pressionar. Se alguma coisa está a mudar, é graças as pressões que se fazem, não podemos desistir. O dia que os angolanos deixarem de reivindicar aquilo que lhes cabe, é o fim.
Queremos uma Angola, Una e Igual para todos.
Angola não é Luanda e como se tem dito, a capital de Angola não é Mutamba. Angola é de Cabinda ao Cunene, do Mar ao Leste. Por isso, o Moxico não pode ser diferente do Lubango; Luanda não pode ser diferente de Benguela; o Uíge, não pode ser diferente de Malange. Assim as terras como os seus respectivos povos. O cidadão do Moxico não pode ser menos do que o benguelense, o caluanda não pode ser superior ao luimbe ou homem do Menongue. A qualidade de ensino do Makarenko não pode ser melhor do que a do instituto do Sambizanga; os hospitais de a beira-mar, não podem ser diferentes dos hospitais do Bengo. Os centros culturais que animam as noites de Luanda, têm de ter o mesmo pendor atractivo que os centros culturais do Ndala-Tando ou Cabinda. Descentralizar o bem-comum para toda Angola. Em suma, não podemos admitir que uns municípios se desenvolvam mais do que os outros, que os angolanos ditos do interior sejam considerados seres inferiores, devido aos programas isolados e descriminatórios e o poder absoluto concentrado aqui em Luanda.
Vamos devolver o poder que os camponeses detinham outrora, com as autarquias sim, para a partir deles conquistarmos a autonomia económica e darmos um maior empurrão aos esforços na preservação da natureza e a defesa do meio ambiente.
A Lei constitucional em vigor ainda tem um cunho colonialista. A última reparação data de 1966 na era do português Américo Tomás. Ela conserva uma carga divisionista e muito descriminatória, tal é o caso das leis da terra e de propriedade. A sociedade civil não pode deixar escapar esta oportunidade de participar na confecção de uma Constituição original e angolana, o que não é o caso de momento. As emendas que foram feitas entre a UNITA e o MPLA, foram apenas por conveniência política. Entretanto, pelos assuntos delicados que se tem a discutir, o tempo estipulado “120 dias”, para a revisão desta Constituição não vai possibilitar um trabalho mais aturado para objectivos de maior consenso e que sejam inalteráveis ao longo dos tempos.
Durante anos a fio, a política de exploração dos recursos diamantíferos nas Lundas foi atroz, sem qualquer benefício para a população que continua uma das mais atrasadas de Angola e sem ter em conta o impacto ambiental e social que diga-se em abono da verdade, é uma catástrofe.
Somos os maiores produtores de petróleo em África, mas, em caso de um derrame de petróleo no Mar, não temos organismos ou estruturas capazes de combater este tipo de desastre que seria fatal para o meio ambiente e de consequência inimagináveis. Somos os presidentes da OPEP, mas os nossos técnicos nacionais do ramo, são os que recebem um salário desproporcional aos cooperantes. Injusto, anti-patriótico e que até é repudiado pelos próprios estrangeiros. Porquê? Falamos dos petróleos, como poderíamos falar de um outro sector da economia angolana em que envolve angolanos e cooperantes. O angolano está reduzido.
O Racismo e o regionalismo estão a tomar contornos ocultos, mas assustadores porque são temas ainda tabus, proibidos. Contudo, a continuar assim, podem pôr em causa a própria integridade da nação, num porvir. É preciso que haja a coragem intelectual para se precaver a sanidade e a unidade de Angola. Nós não temos outra pátria senão esta. Olhando mais para o Sul do país, não se vislumbra nenhum plano sério de desenvolvimento sustentado, o mesmo se diz para com as províncias mais ao interior. A mesma preocupação vai para a questão de Cabinda. O caso Cabinda, não pode ser visto como um problema apenas do gabinete da presidência, é um problema que engaja todos, cuja solução pode ser encontrada num debate muito mais aberto e abrangente.
Angola vai mal. Não está pior porque nunca esteve melhor!
Por isso, é urgente repensar Angola.
Esta missão tanto é nossa dentro do país, como é responsabilidade de todos os angolanos no exterior. Porque Angola está sem rumo. Os políticos desapareceram, a sociedade civil não sabe onde está e para onde vai. Os estudantes com realce para os universitários que deveriam ser a força de transformação desta sociedade, foram dominados pelo pessimismo e falta de confiança na classe politica que os conduz, a começar pelos deputados. A camada dos jovens está desesperada, entrou no: “Deixe as coisas andar como estão, porque nada vai mudar”.
A propósito, o Presidente da República nunca se ofereceu para fazer um balanço sobre o estado da Nação, expondo-se ao debate aberto e frontal, para não só explicar, como se explicar sobre a sua visão de Angola e o porquê desta prática de governação. Nunca o Presidente da República se dignou em conferenciar com os universitários para trocas de experiência e inteirar-se da realidade do estado do ensino e formação, e responder a questão do: que Angola teremos no futuro imediato e que futuro terão os quadros em formação?
Ora, como fazem todos os países do mundo livre, o presidente tem de estar mais presente, mais próximo do seu povo. O presidente terá de equacionar com os deputados e em permanência a vivência social e económica dos cidadãos que dirige, para falarmos a mesma linguagem e podermos passar a mesma mensagem a todos os angolanos e ao mundo inteiro. Não é o mesmo em Angola. Os eleitores não conhecem seus representantes (deputados) no parlamento, porque não há contacto.
Nunca foi realizada uma conferência de peritos angolanos sobre o estado da economia real nacional, para se ter uma explicação correcta sobre a deriva da nossa economia. Nunca se teve a coragem de admitir o fracasso das análises e previsões que se tem feito. As empresas contratadas para avaliarem e monitorarem o estado da economia e do sector financeiro ou bancário de Angola, como é a KPMG, não têm sido capazes de apresentar dados verídicos.
O que temos vindo a observar, são coisas abstractas. Depois de terem ocultado a situação, os dirigentes do Estado e governo, surgem agora a admitir que Angola está afectada pela crise mundial, somente para se desculparem dos erros cometidos e poderem encobrir as promessas irrealizáveis.
Angola tem sim dinheiro para cumprir com os programas prometidos, porque ninguém pode acreditar que os indivíduos que projectaram esse programa de reconstrução, estavam tão distraídos que não souberam prever e aquilatar as oscilações económicas e financeiras ou a possível fragmentação da ordem mundial. Também ninguém se esqueceu que os nossos orçamentos não são elaborados com base no barril de petróleo a 150 ou 170 dólares, mas sim a 55 dólares. Por isso, vir a público com semblante inocente e falar de crise é mais uma manobra triste;
A política de privatização que é crucial para a perenidade de uma Nação, não mereceu nem estudo, nem o conhecimento temático da Assembleia Nacional, nem debate participativo por parte da sociedade civil. É uma farsa, é preciso que esta politica seja revista;
Nunca foi realizada uma conferência de imprensa sobre as estratégias da Reconstrução Nacional. Tudo é feito em surdina. Resultado, são as obras que estamos a ver: tapa aqui, remenda acolá;
Nunca foi realizado um debate franco e aberto sobre a governação e seus contornos, nos meios de comunicação estatais, os únicos de cobertura nacional, onde são convidados os órgãos privados com liberdade de questionários;
Num outro prisma, nunca foi realizada uma conferência sobre o estado do ensino que carece de uma revolução profunda quanto as suas estruturas, equipamentos, seus objectivos, sua metodologia, sobre os conteúdos temáticos e os instrumentos de elucidação e orientação do estudante para sua formação até a sua inserção na vida profissional. Continuamos a erguer paredes, mas não estamos a erguer o angolano a medida das exigencias de Angola. Nos últimos dias fala-se muito e de forma desordeira, sobre a construção de institutos médios, etc., mas não se fala da sua política. Fala-se hoje, apenas porque o povo gritou. Mas nada é sólido e consubstanciado, nada mereceu um estudo de fundo profissionalizado que dê confiança na formação de um homem novo, o angolano do século XXI. A reforma actual do ensino está muito longe de ser séria e muito aquém daquilo que os angolanos lúcidos esperavam;
O que o governo tem procurado fazer, é cópia de outros projectos. Sua adaptação, está embrenhada de muita carga ideológica, muito prejudiciais para o desenvolvimento do país;
O problema de Angola não tem nada à ver com as divisões partidárias. Com o fim da guerra, o problema de Angola tem a ver com quem é milionário, quem é rico, quem é pobre, quem vive no musseque. Independentemente das cores das bandeiras dos nossos partidos políticos, o problema de Angola, tem a ver com quem não tem dinheiro para comprar pão para os filhos, enquanto no mesmo país, outros têm nas suas contas bancárias 200 a 300 milhões de dólares ou mais de um bilhão com patrimónios que daria para salvar a vida de milhares de crianças.
Enganaram-nos todo o tempo, mas o problema real de Angola, não é outro, senão deste conflito dos que têm muito até para deitar no estrangeiro e dos que não têm nada, nem para comprar caixão para o filho que morre de fome. Isto não tem nada à ver com questões partidárias. A luta entre os militantes dos partidos é um falso argumento. O pobre do MPLA, não tem diferença do pobre da FNLA, são todos pobres, e explorados pelo mesmo Estado, pelo mesmo governo.
Nunca houve um debate sobre o mundo do trabalho, a política laboral, a política salarial, a política do Mercado, a dança dos preços dos produtos básicos e o seu impacto no equilíbrio social. O salário continua de miséria e para parafrasear o Dr. Alberto Neto, “a vida do angolano é comparada a vida de um animal de estimação da Europa”.
Depois de passarmos em revista parte da situação actual política social e económica de Angola o grande país, e no quadro dos desígnios da candidata Luisete Macedo Araújo, gostaríamos de deixar para reflexão agora e depois, as seguintes preocupações:
_ Com a criação da Comissão Constitucional e com a Comissão Nacional Eleitoral, não faz muito sentido que seja o Presidente da República a convocar as eleições. Pois, pode dar-se o caso de nunca as convocar
_ Que sejam despolitizados os sectores e serviços públicos; as forças da ordem e segurança e os órgãos de soberania nacional
_ Que o exército seja reequacionado as realidades do presente
_ Que a polícia seja protectora, amiga e confidente com o povo, com salários ajustados e em dia, para que a polícia não se abasteça da população já em si pobre, como acontece agora
_ Que o Parlamento seja digno representante do povo, que defenda na realidade o povo que o elegeu
_ O homem é a medida de todas as coisas. Investir no homem para promover a estabilidade; a família tradicional, sua coesão e os subsídios de ajudas de custo, deve ser uma das prioridades
_ Queremos a revisão urgente dos símbolos da República. As insígnias que documentam os símbolos do Estado, têm de ser de abrangência nacional e do consenso de todos. Todos aqueles que se sentem filhos da pátria angolana, têm de se rever nos símbolos que representam o país. Ora, não é o caso agora. Estas insígnias só reflectem o que é o MPLA
_ No quadro da alternância do poder, indispensável para o progresso de qualquer sociedade e por uma questão ética, as duas faces na moeda nacional, já não têm razão de ser. A persistir, provocará, não só constrangimentos protocolares, como serão encargos financeiros acrescidos para emissão de novas notas, depois de cada acto eleitoral presidencial. Pois, daqui à 12 anos, vamos ter cinco ou seis insígnias de faces dos presidentes que forem a suceder, o que não será muito elegante
_ Uma vez eleita presidente, Luisete Macedo Araújo promoverá um debate mais alargado e sustentado sobre a regionalização de Angola. Pois, noutros países que já avançaram, tem sido este princípio de organização territorial que tem muito contribuído para o desenvolvimento equilibrado dos povos.
Pois cria a competitividade, porque obriga as pessoas ao esforço e ao trabalho, assim como ajuda a estabelecer a estabilidade e a paz civil. Ao contrário do que muitos advogam, o conceito de regionalização, retira a apetência separatista motivadas pelas injustiças e discriminações do modelo centralizado
_ Há urgência em se promover um organismo que possa estudar e legislar sobre a realidade económica de Angola, o poder de compra dos angolanos, o salário minimo, a politica dos preços e os mecanismos reguladores e de fiscalização, os impostos e taxas practicados pela Alfandega Nacional, em suma necessita-se de um organismo muito mais profissional e competente.
_ A situação das alfândegas com predominância para os portos é assustadora. Não é admissível, temos outros portos subaproveitados como Lobito e Namibe e os navios com mercadorias ficam 6 meses para descarregarem e forçados a pagarem pelo tempo de espera. Isso também é um dos motivos que faz encarecer os produtos
_ A luta contra a impunidade judicial tem de ser uma constante. Neste aspecto, envolveremos e encorajaremos a imprensa na denúncia dessas práticas pouco abonatórias
_ Ao mesmo tempo que repudia o investimento de capitais angolanos no estrangeiro, Luisete Araújo tudo fará para assegurar o capital económico angolano em Angola, por formas a se erguerem estruturas de produção nacionais, assim criar emprego e aumentar-se o ciclo da oferta e da procura de produtos no mercado o que significa desenvolvimento
_ Através da imprensa também nos cultivamos, pela imprensa também podemos ser doutores. Por isso, uma vez eleita presidente, Luiste Araujo pretende subvencionar as publicações privadas sobretudo em custos de produção e meios de transporte, para que elas não cedam às tentações, mas para que de facto se posicionem como o 4° Poder, contribuindo realmente para o crescimento e desenvolvimento mais verdadeiro de Angola como Estado de direito e dos angolanos como povo respeitado
_ Luisete Araujo quer um movimento cultural verdadeiramente angolano, com a promoção dos valores intrínsecos da arte e cultura angolana, em particular a pesquisa, diversificação e a valorizacao da nossa música
_ Luisete Araújo quer uma Diplomacia científica e apartidária e não uma Diplomacia política e ideológica comprometedora. Quer uma diplomacia baseada na lógica do Dar e Receber, de concorrência e abrangência e não uma diplomacia fechada e unidireccional consubstanciada em interesses imediatos e pessoalizados
_ Angola não pode passar todo o tempo a promover cimeiras sem nexo e a lutar para presidências de instituições que não dizem coisa alguma no contexto de progresso real daqueles que sofrem. Estamos a gastar muito dinheiro dos cidadãos só porque pretendemos criar clubes de auto protecção internacional
_ Vai se desenvolver um programa urgente de se submeter à estagios de superação técnica, os governadores provinciais e os administradores municipais na arte de administrar. Pois, muitos erros que são cometidos, para além do aproveitamento económico ilícito dos governantes, têm sido por desconhecimento total por parte daqueles que são indigitados à ocupar tais cargos
_ Ao invés do recrutamento militar obrigatório, Luisete Araújo fará um apelo ao ensino e estudos gratuitos e obrigatórios, até ao ensino médio. Um estudo será elaborado para a ajuda de custos de transporte aos estudantes.
_ Queremos alojamentos condignos para as nossas populações e não a espécie daquilo que consideramos Aldeias e Assentamentos Indígenas, piores aos que condenávamos no tempo colonial
_ Preconizamos uma revolução total ao ensino e formação socioprofissional, por formas a adaptá-lo a realidade conjuntural e as necessidades gritantes do país, no campo da engenharia, construção, arquitectura e serviços. O programa de avaliação ao grau de competência pedagógica dos docentes, tem de ser seriamente activado
_ Que o combate ao SIDA, não seja um esforço isolado, com o risco de jogar para o esquecimento outras endemias quão mortíferas, a exemplo da malária. Daí que, os esforços que se dedicam na procura das curas, serão triplicados na sua profilaxia. Pois, o nosso grande pecado, é não sabermos evitar que as coisas aconteçam. Assim gasta-se muito mais meios no combate as doenças que podiam ser evitadas. Combater os mosquitos quando alimentamos as fontes geradoras desses mosquitos, é esforço em vão
_ Para precaver a distância que por razões várias se tem registado entre a presidência e os povos, será aberta uma linha telefónica directa com os cidadãos para estes poderem canalizar directamente suas grandes preocupações.
Uma vez eleita presidente e no quadro da Comunicação Social, Luisete Macedo Araújo pretende propor que se declare a Rádio Nacional de Angola; a ANGOP; A TPA; o Jornal de Angola; o Imparcial Fax; o Semanário Folha8; o Semanário Angolense; o Semanário Agora; a Rádio Ecclesia, como patrimónios do Estado. Pois, muito contribuíram para a consagração do Estado Angolano como soberano e para o despertar da consciência da Sociedade Civil Angolana no quadro da cidadania. A Pré-candidata reconhece ainda os esforços que têm sido envidados por gente corajosa da Comunicação Social que, contra os inúmeros obstáculos, têm permitido os debates dos assuntos candentes da sociedade com os cidadãos e sem tabus.
Que assim fosse com Angola inteira. Mas, tem fé que a discriminação terá o seu fim e a ditadura jamais fará parte do léxico político angolano
Agradece todos quantos têm partilhado suas visões sobre Angola e transmitido opiniões e conselhos sobre a dinâmica que se tem empreendido na busca de propostas para soluções dos mil problemas que afectam o país e o povo. É o caso da JDD, do Movimento da baixa de kassange, do AMC/MCC, dos militantes do PLD, do PDPA Carlos Leitao FPD e muitos outros cujos partidos foram extintos.
A iniciativa do AMC/MCC na divulgação radiofónica sobre os direitos cívicos dos cidadãos, é digna de louvor, quando lhes foi negado esta difusão pelos órgãos estatais. Queremos mais uma vez felicitar a Rádio Ecclesia que prontamente se disponibilizou, para falarmos mais de nós mesmos, pois temos um caminho longo e tortuoso a percorrer, precisamos de muito mais amor, mas de conhecer os nossos direitos e também deveres como de nos conhecermos mais uns aos outros, povos e regiões, culturas e tradições, potencialidades e capacidades de se fazer muito mais e melhor.
Portanto, com este quadro aqui pintado, não se quer dizer que Angola parou no tempo, muito menos que se está de braços cruzados. É claro, alguma coisa se está a fazer, mas podia-se fazer muito mais e melhor, sobretudo se respeitássemos a ciência e não fossemos tão orgulhosos na altura de se defender os preconceitos político – ideológicos. Seria muito mais célere, se fossemos sinceros em aceitar que tecnicamente, os quadros que servem o governo, registam um défice considerável na arte de governar, o mesmo que dizer na ciência de administrar homens e meios de tamanha dimensão.
Aos militantes dos partidos políticos que foram extintos, a nossa palavra de apreço. Estamos juntos por Angola. “É bem provável que se tenha perdido uma batalha. Mas não e nunca o combate”. O combate termina quando cada família angolana, cada filho angolano tiver um lar tranquilo, uma habitação condigna e o mínimo exigido para subsistência.
Por isso, antes da elaboração de qualquer programa, é judicioso e responsável colocar-se a seguinte questão :
- Que Angola deixaremos para os nossos filhos e que tipo de filhos irá herdar essa Angola!
Uma Angola hipotecada, em que nossos filhos serão simples inquilinos?
Uma Angola afogada em dívidas?
Uma Angola política, cultural e socialmente estilhaçada em ilhas vulcânicas?
Ou uma Angola justa e mãe de todos os angolanos?
“Só o Povo é Soberano.”
“Ordem na governação; Respeito pelo povo!”
“Devolver Angola aos Angolanos!”
Que Deus Abençoe Angola!
Fonte: http://www.club-k-angola.com
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